segunda-feira, maio 14, 2012

A ODALISCA ANDRÓIDE


"Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores. Os céus estão explorados mas vazios.

Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando.

Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.
Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador."

Assim recitou Fausto Fawcett.

segunda-feira, abril 16, 2012

Damien Rice - Look at me - new 2011

Thiago Pethit - Mapa-Múndi



E me pergunte: - O que será do nosso amor???

Fluência

"Ouvi um conselho amigo, transcrever sentimentos latentes...novo de novo...
nunca tive pretensões grandes de amores, como diria meu íntimo Kundera... risíveis amores...
heis que se fez na simplicidade a obscuridade da leveza... heis que se fez novo... de novo...
sobre seguir caminhos, um mapa, de tesouro talvez, seguir, ir ir, apenas ir...
deixar para trás as verdades, reinventar, assumir, ouvir um sim.... fluir, deixar-se ir...
assumir que por mais que não tenha saído como o planejado se fez vale a pena... assumir...
reinventar caminhos, não apenas por terra... reinventar olhares, reinventar destinos, reinventar amores, reinventar o que te faz seguir, ir, apenas ir...
ouvir um sim de si mesmo, ouvir o te diz o silêncio, ouvir o que nunca foi dito... permitir-se...
finalmente chegar num ponto qualquer desse traço e ver que esse desenho abstrato, faz sentido, ele te faz ter razão... Seguir, ir, ir apenas ir."

terça-feira, outubro 25, 2011

"Pego-me questionando sobre os porquês de não conseguir separar meus pensamentos de ti toda vez que nos vemos, como rimos da última vez, a ausência de chão ao ir embora fechando a porta e te deixando lá... meu mundo de ponta cabeça... meu mundo de ponta cabeça... por que ser tão perfeito??? por que de uma história de amor tão perfeita em toda sua construção??? Sinto calafrios como quando nos conhecemos a toda vez que te encontro, aquele lance de borboletas no estômago!!!, questiono-me sobre como eu pude ir tão longe dentro de mim... nossos sonhos, nossos planos, eles me parecem tão ao alcance das mãos, a vida que te ofereci... nossos olhos, eles não mentem... não me negue seu olhar, porque debruço-me nele, eu ainda me vejo lá, mesmo depois de tanto... Amor desenfreado, sem tempo, sem mais espaço no coração para guardar... Amor que espera o fim do teu silêncio cortante, que espera doçura nas tuas palavras ao chegarem... tanto amor, tanto mar, Ahhh mar... Amor que espera reavivar... adormeceu embaixo de um banco de praça, calou...
... volta amor, já estou com saudades de mim...I love you'till the end!!!."

terça-feira, setembro 27, 2011

" Ah como eu gostaria de dormir essa noite, gostaria de abrir os seus olhos para meus sonhos, cair na imensidão do mar e respirar e respirar e respirar aliviada, como eu queria te ver lá novamente... me encontrar no fundo dos seus olhos... está tão frio... é sim, frio... está tão frio aqui... o ouro dos tolos é a paixão... tão pouco, tão superficial, tantos tãos... tantos nãos... porque eu insisto em te querer tanto e tão fundo e tão leve... como eu gostaria de ouvir um eu te quero pra uma vida toda, mesmo que minha vida durasse um dia... um minuto, só um minuto... foi um olhar e a eternidade caiu, desabou, findou... a eternidade é tão breve não é mesmo?!... tão, tanto, todo... você..."

segunda-feira, agosto 29, 2011

S.M.I.E

"o dicionário diz que saudade é um sentimento mais ou menos melancólico de incompletude. como assim, mais ou menos? como saber se um sentimento está mais ou menos melancólico de incompletude? e por que às vezes é saudade e outras vezes saudades? será que quando é menos é saudade e quando é mais é saudades? penso que saudade é mais geral e saudades, mais específico. e que saudade é mais melancólico e saudades é menos melancólico. mas, de incompletude, os dois sentimentos são. e eu, agora, estou com muito sentimento melancólico de incompletude específico."

Noemi Jaffe, em Saudade

PS: FOR YOU

sexta-feira, agosto 26, 2011

Os Paralamas do Sucesso - Tendo a Lua

IEMANJÁ DO CÉU

Domingo, quando te vi cheia no céu, sobre a Lagoa - e nunca te vira assim tão cheia - juro que morri de ciúmes, Bem-Amada. Já não eras mais moça. Os olhos mecânicos de Lunik-9, pousados sobre o teu corpo, fotografavam-te em tua desnudez. Ai de mim, já não eras só minha. Nunca mais os doces colóquios noturnos, só tu e eu, e o Infinito recolhido em silêncio para o nosso amor. Nunca mais os grandes êxtases solitários, tu transtornada de paixão, a descobrir só para os meus olhos as partes mais pudendas do teu luminoso corpo. Nunca mais os grandes delírios declamatórios, versos desvairados a partir de mim para os teus espaços.
Nunca mais, porque eu estava certo de que embora os pretendentes fossem muitos, o único mesmo era eu. Eu era o teu eterno poeta, o menestrel da tua melancólica beleza, o sacerdote máximo do teu culto. Representavas para mim a lemanjá do Céu, a deusa de cuja pele branca irrompe luz, a uiara do canto merencório e ausente, cuja música envolve e atrai os pescadores do verbo. Tua cabeleira de prata estendia- se no Cosmos, vinha envolver minha tristeza com sua mansa claridade. Às vezes, virgem demente, parecias me provocar. Sacavas da treva teu divino seio e o suspendias, alabastrino, para a minha contemplação, como o faria uma menina pervertida com um homem prisioneiro, apenas para aumentar seu sofrimento, levá-lo aos abismos da loucura.
Ou te deixavas, Lua menina, reclinada em tua rede branca, a me fazer juras de amor para sempre, tua voz sussurrante soando nos claustros do meu silêncio, a me dizer que era melhor assim, de longe, de bem longe, no módulo mesmo do mistério: que eu tivesse paciência, pois eras em verdade minha, mais do que de qualquer outro poeta ou trovador, porque só para mim te movias, Lua Nova, alteando os quartos do minguante para o crescente, do crescente para o plenilúnio, em virginal despudor. E era como se eu te possuísse e fecundasse ao longo de tuas fases, e só para mim retornavas - eu que mais que nenhum outro havia sido o teu poeta e fiel cavaleiro; eu que sobre ti dissera as palavras mais lindas e sentidas; eu que descobrira antes que ninguém que és neta de Oxum, filha do Mar, ilha da Terra boiando no Universo: feita na mesma combustão que criou minha matéria; que és enfim, Iemanjá do Céu, a sereia luminescente do olhar verde-prata, que atrai com seus inaudíveis cantos hialinos os poetas que tiveram a temeridade de olhar para o Infinito.
Sim, senti ciúmes de ti, Lua Mulher. Senti ciúmes porque já agora, em algum lugar no teu mar das Tormentas, um pequenino Robô terrestre pesquisa com olhos cobiçosos a superficie branca do teu ventre. E mais ciúmes senti ainda porque, ao ver-te domingo sobre a Lagoa, soube que te havias dado ao jovem conquistador. Estavas rósea de vergonha, Lua Cheia, e mantinhas os olhos baixos para não fixar os meus.
Pobre de mim, que fazer? Aos cinqüenta anos, como competir com o atlético e ousado Lunik que venceu mais de trezentos mil quilômetros para te conquistar, com risco de sua própria estrutura? Não viste com que delicadeza pousou ele sobre teu corpo, que os cientistas pensavam recoberto de uma espessa camada de poeira, mas que, ao contrário, leva apenas uma fina e perfumosa mão de talco lunar? Não, ao poeta resta apenas reconhecer que, doravante, terá que repartir teus encantos com os homens da Técnica. Mas o que ninguém sabe é que quem te colheu fui eu, "porque eu fui o grande íntimo da noite, colei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa"...
Por isso não pensem os soviéticos que Lunik foi... l'unique. Único uma ova! Antes dele já o poeta brasileiro havia "passado a Lua na cara" em boas condições. Leiam a balada "O poeta e a lua", em sua Antologia poética, e depois me digam...
E ainda me vêm com essa banca de Lunik...
L'unique... aqui, ó!

Vinicius de Moraes

Livro: Para uma menina com uma flor pg 160-162

quinta-feira, julho 14, 2011

Beatriz


Olha,
Será que ela é moça?
Será que ela é triste?
Será que é o contrário?
Será que é pintura o rosto da atriz?
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha,
Será que é de louça?
Será que é de éter?
Será que é loucura?
Será que é cenário a casa da atriz?
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva para sempre Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha,
Será que é uma estrela?
Será que é mentira? [mentira. . mentira. . mentira]
Será que é comédia?
Será que é divina a vida da atriz?
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida. . .


Composição: Chico Buarque e Edu Lobo


CIRANDA DA BAILARINA

" ... a Lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão e tu, pisava nos astros distraída..."

Composição: Silvio Caldas/Orestes Barbosa